Por mais tentado que esteja a ignorar os insultos e a argumentação fascistóide de muitos que por aqui passaram para comentar o post “Arruda: a fase do autismo”, não posso deixar de levar em conta o sentimento original dos pais e mães de autistas, mesmo os mais alterados, que se revoltaram contra a utilização do termo por mim.

A eles, portanto, me dirijo agora. 

Tenho dois filhos e dois enteados, todos mentalmente saudáveis, por isso seria hipocrisia lhes dizer que sei como vocês se sentem. Não, eu não sei. Apenas imagino e, ao imaginar, sou capaz de me solidarizar. Por isso, aliado a uma formação humanista sólida e a uma experiência de vida conduzida pelo respeito ao próximo, vou relevar as agressões verbais de alguns comentaristas que me chamaram de “pseudojornalista”, “pseudointelectual”, e coisas semelhantes. Essas reações, tenho certeza, são fruto de um desequilíbrio emocional altamente justificável, por oriundo de uma vida regulada pela rotina, certamente sofrida, de cuidar de um filho autista.

 Como jornalista, profissão que exerço, diariamente, há 23 anos, aprendi a ter um enorme apreço ao drama humano e a ele me dediquei a traduzir, como missão de vida. Tento, na medida do possível, dar voz a quem não tem, aos excluídos, aos invisíveis sociais. Ao longo dessas duas décadas, ajudei a denunciar todo tipo de injustiça e a desnudar canalhas, não sem algum custo e risco – já fui ameaçado de morte e processado algumas vezes, normalmente, por gente corrupta e bandida. Não me importo, é esse o meu trabalho.

Eu tive a oportunidade de explicar, em resposta a alguns comentaristas, que o texto não tem nenhuma intenção, nem mesmo implícita, de ligar autistas a políticos corruptos. Essa interpretação é rasa, primária e de má fé, nada tem a ver com o sentimento de revolta de alguns pais. A utilização do termo “autismo” tampouco é uma metáfora, como muitos assim disseram, alguns no intuito de me defender. É, na verdade, uma analogia com base em larga utilização do termo, na literatura e no jornalismo, para designar comportamentos de intensa introspecção. Da mesma maneira que se fala, por exemplo, da relação “esquizofrênica” entre o PSDB e o PT, em textos de jornalismo político. Quem não é capaz de entender isso, certamente não é capaz de entender muita coisa.

Essa minha justificativa, contudo, não tem a força necessária para subjugar as circunstâncias dos pais que lutam, diariamente, para criar filhos autistas e sofrem, nessa dura rotina, com o peso mortificante do preconceito. Mesmo que alguns, como se pode constatar na caixa de mensagens do post em questão, não tenham a menor condição emocional e intelectual de sustentar argumentos e articular idéias sem partir para a agressão pura e simples. A crença de que as dificuldades formam o caráter, como se vê, não tem valor absoluto. O comportamento histérico e mal educado de uns, no entanto, foi suplantado pela elegância e gentileza de outros, caso da leitora Rita Louzeiro que, delicadamente, com base em argumentos simples e verdadeiros, pediu que eu me pronunciasse sobre o tema, novamente, aqui no blog.

É o que faço agora, ao deixar meu carinho e minha solidariedade a todos os pais de autistas que me lêem. Mesmo os mais alterados.